por Larissa Oliveira
Imagine que a sua empresa ou o lugar que você trabalha é um político ou candidato. Se estivesse concorrendo a uma eleição, será que ela levaria o pleito? Assim como existem diversos perfis de pessoas que estão tentando ocupar os cargos de Deputados, Senadores, Governadores e Presidente, também existem variadas condutas dos negócios. Mas não é só esse o ponto comum. A definição moderna de política é a convivência entre o ser humano e o poder. Ou seja, fazemos política a todo momento.
Feita essa contextualização e sem dar luz a qualquer tipo de partido ou ideologia, convido que analise as características da sua empresa, com base na conduta dos políticos. A reflexão é livre.
Vida pública
Começo pelo perfil de político clássico. Aquele que diz ter mais de x anos de vida pública. Que desbravou e ajudou a escrever a história de um município, de um estado, de um país. Que acredita na ‘boa e velha política’, mas que já sente os impactos do aumento de pessoas querendo o seu cargo. E que utilizada do discurso:
– Está difícil fazer política nos tempos atuais
– O brasileiro não se importa com política e elege qualquer um
Para justificar para si um possível fracasso eleitoral.
Provavelmente, você já deve ter escutado de alguma empresa:
– Nossa, está muito difícil vender hoje em dia. Ano a ano só piora.
Esse desabafo pode vir de uma empresa que está há anos no mercado, que pode ter trabalhado com diversas moedas econômicas e acompanhado a mudança de gestões públicas e fatos históricos. Que coloca no seu site um selo de x anos de história. Que acredita que a forma que vendia quando começou seu negócio é a única maneira de ganhar dinheiro. E, por fim, que a culpa está no mercado, nos concorrentes, no marketing, nos algoritmos das redes sociais e no cliente.
Discurso
Tem o candidato que é excelente de discurso. Que já fez curso de oratória e desenvolvimento pessoal, como Dale Carnegie, além de um media training impecável. Que cita os nomes de alguém da plateia para se mostrar íntimo do público, aumenta a entonação de voz quando quer mostrar energia atrelada com revolução, avanço, conquistas; dá aperto de mão forte, acompanhado de olhos nos olhos por quem passar naquele dia – principalmente durante período de campanha eleitoral. Ele usa roupas estratégicas, alinhadas com a imagem que quer passar. E o político entrega o que promete? Não.
Isso também se aplica para empresas. Tem negócios com sites com as melhores tecnologias. Comunicação visual de brilhar os olhos. Estratégia de conteúdo alinhado com persona. Reels, reels e muito reels. Equipe de marketing com cientista do consumo, gestor de tráfego, social media, growth e mais tantos outros nomes que criam para essa área. E a empresa entrega o que promete? Não.
Mesmo com estratégia, o marketing não salva um produto ruim e nem um candidato bom de papo.
Caça Likes
Antes mesmo da internet, os políticos já garantiam suas fotos naquelas máquinas de filme para poder utilizar em seus jornaizinhos falando do que fizeram para a cidade, para o estado ou para o país. As fotos eram sempre de visitas, com eleitores – principalmente cumprimentando ou em feiras e eventos -, com ambulâncias ou qualquer outro recurso que ele teria conseguido para aquela população. Como se ele tivesse tirado dinheiro do próprio bolso e dado, sendo que na verdade não seria mais do que a obrigação, com base no papel público que desempenha. Mesmo que com o surgimento das redes sociais, esses conteúdos são extremamente frequentes.
Tem empresa que costuma bater no peito que o produto é de qualidade, que o atendimento é de qualidade, que a entrega é de qualidade. Uai, mas ofertar algo com qualidade não seria uma coisa óbvia? Ou a empresa vai dizer que sabe que o produto é ruim, mas vende mesmo assim? Insiste em contar uma história que não existe. E a equipe de marketing que lute. Afinal, é só escrever. É só uma artezinha.
Bandeiras
Tem político que diz defender e trabalhar por diversas bandeiras: meio ambiente, saúde, cultura, igualdade racial, igualdade social, equidade de gênero, proteção aos animais…mas não sabe na prática o que cada causa realmente necessita. Diz uma coisa, mas faz outra, quando não faz na verdade. Na maioria das vezes, o político usa das bandeiras para falar com gente interessada no assunto, mas dizem que essas pessoas são histéricas, loucas e dramáticas.
– Acha que sou racista? Tenho até amigo negro.
E as empresas? Posta Feliz Dia da Mulher, mas dá notificação quando a colaboradora precisa se ausentar porque o filho ficou doente e a creche pediu para ir buscar e ela não tem com quem deixar. Quando não diz que defende a equidade de gênero, mas não tem uma mulher em cargo de liderança. Que faz uma arte fofa de Dia do Trabalhador, mas finge não ver o esgotamento emocional da equipe, que acha que os problemas pessoais devem ficar fora da empresa, esquecendo que o ser humano é indivisível. Depressão, ansiedade?
– Ah, colaborador é folgado e que levar a empresa no pau
Diz a empresa que postou a conquista do selo de Great Place to Work.
Preço
A compra de voto é uma prática comum. Veja bem: comum é diferente de correto. Comum no sentido que sabemos que acontece com frequência e nada é feito para mudar isso. E tem político que é eleito comprando voto. Logo, existem pessoas que aceitam vender seu voto. Ao mesmo tempo que esse político é o que diz que o brasileiro só quer saber de vender o voto. Que é interesseiro e que não está nem aí para a política. Ora, ora, candidato. O que mais você ofereceu ao eleitor além da compra de voto?
Ah, o cliente só quer saber de preço.
– Por que a venda não aconteceu?
– Por causa do preço.
Será que é somente por esse motivo ou porque a estratégia de venda da empresa está pautada em cima disso? A equipe está capacitada para quebrar argumentos e apresentar as vantagens do produto ou serviço – isso é se realmente existir. O cliente abraça aquilo que você oferece.
Brisa
Tem o candidato que surge do nada. Tipo uma brisa que acha que tem capacidade de amenizar o calor constante. Acredita que em quatro meses de campanha – três oficiais e um extra – será eleito. E posta todos os dias nas redes sociais, vai em eventos e tenta utilizar do seu networking para chegar em mais pessoas. E escuta frases como:
– Quem é você?
– Quais são suas causas?
– Nem sabia que tinha interesse por política.
– Da onde surgiu essa pessoa?
É necessário constância e estratégia para a solidez e evolução de uma empresa. Não vai ser contratando uma influenciadora que sua empresa será conhecida e você ficará milionário. Muito menos postar algo no Instagram e sair vendendo horrores. Ou fazer uma campanha no Google Ads com menos da verba recomendada. Não é de uma hora para outra. É preciso planejamento e investimento. A não ser que esteja disposto a desperdiçar dinheiro como muito que brincam de ser candidatos.
Novo Conceito
Tem o candidato que quer apresentar um novo conceito em política. Oferecer soluções nunca vivenciadas pela população. Proporcionando novas experiências aos eleitores. De uma maneira disruptiva. Olhando para o avanço tecnológico e inovação, mas mantendo as pessoas no centro de suas decisões. Nossa. Lindo. Aplausos. Seria uma Político Unicórnio? Ou mais uma vez um candidato que nem sequer consultou a população para saber o que realmente necessita? Qual a real dor do eleitor?
Depois dos termos gourmets, mindset e inovação, a combinação de novo conceito é a queridinha da vez para as empresas. Um novo conceito em moradia, um novo conceito em hospital, um novo conceito em escola.
Ah, meu Deus. Alguém para esse novo conceito. De novo não existe nada.
E será que é realmente isso que o cliente quer? Que tal começar perguntando aos consumidores se eles pagariam por aquele produto e serviço? Até porque colocar uma lavanderia compartilhada não é um novo conceito em moradias verticais. Afinal, como era mesmo que as pessoas lavavam as roupas nos cortiços nas favelas? Em um tanque compartilhado.
Meu interesse, minhas regras
O eleitor costuma dizer que os políticos estão focamos somente nos próprios interesses. Que não pensa no povo. Que só decide pensando em como será beneficiado. E, sim, de fato boa parte dos políticos agem assim. Afinal, somos seres humanos e agimos sempre por interesse, seja por sobrevivência ou reprodução. Mas isso dá um outro texto.
Me questiono quanto as empresas que também só pensam nos seus interesses. A começar em ter o menor número de funcionário possível, mesmo sabendo que a demanda de trabalho é insana. Passando pelo fato de negociar com fornecedores e tentar baixar o preço no mínimo possível, mesmo sabendo que isso pode onerar outra empresa e ficar insustentável.
– Ah, mas ele aceitou.
– Eu não coloquei preço no trabalho dele.
– Fez esse preço porque quis.
Reduzir custos é o mantra. Quando não atrasa o pagamento, de colaboradores e fornecedores, porque a retirada robusta do mês se faz necessária, para custear a vida bacana que faz questão de compartilhar em suas redes sociais, assim como seus mentores e referências fazem.
Existe uma linha bem tênue entre os pontos falhos dos políticos e das empresas. E se os clientes não apertam o botão verde e confirmam para o seu negócio, não venha dizer que é culpa do consumidor, do marketing, do algoritmo do Instagram ou do Facebook e da concorrência. O mesmo se aplica para a sua empresa. Prefeito, vereador, deputado, governador, senador e presidente não têm a capacidade de salvar o seu negócio. Ainda mais se você faz política como eles.
Conheça mais a Autora
Larissa Oliveira é Especialista em Comportamento do Consumidor e Marketing| Docente e Empreendedora_
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Larissa,
Sua abordagem foi maravilhosa!
É preciso ser perspicaz para fazer pessoas refletirem sobre um tema. Foi exatamente isso que você conseguiu fazer em mim.
Leitura rápida, leve e com profundidade.
Meus sinceros parabéns.
Como sempre, a Larissa sabe muito bem definir ou estruturar um assunto em todos os seus aspectos. Parabéns pela abordagem dinâmica, divertida, direta e muito atual. Sou e sempre serei sua fã.